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Entenda a relação da Vasconha com o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, que faleceu nesta semana

Torcida
17 de mai. de 2025há cerca de 1 mês

Em 2012, um pequeno país da América do Sul começou a passar por importantes mudanças que repercutiram em todo o mundo e o colocaram na vanguarda em relação a políticas progressistas. Uma delas foi a apresentação de um projeto, por parte do governo federal, sobre a regulamentação do cultivo e do consumo de maconha neste país.

Um ano depois, com o objetivo de combater o crime organizado, os problemas de saúde pública e o encarceramento de jovens, a Lei 19.172 foi aprovada na Câmara e do Senado local.

Naquele momento, o então presidente Pepe Mujica transformou o Uruguai no primeiro país do mundo a ter uma legislação que abrangia todas as etapas do mercado da maconha, da produção ao consumo, passando pela venda em farmácias legalizadas e com usuários cadastrados em um sistema do governo.

Bom, mas no que isso afeta o futebol? Mujica e o Uruguai se tornaram exemplos da luta pela regulamentação do consumo e do mercado da maconha. E o ex-presidente uruguaio, morto na última terça-feira (13), aos 89 anos, virou o símbolo de um grupo de torcedores do Vasco: a famosa “Vasconha” — que, como hoje ressaltam os seus sócios, não é uma torcida organizada, e sim uma empresa, com CNPJ e tudo que tem direito.

Fundada de forma informal ainda no fim dos anos 1990, a Vasconha escolheu Pepe Mujica como “padrinho” da torcida após as ações do então presidente no país vizinho. Em 2015, quando Mujica visitou o Brasil — já como senador e não mais como presidente –, viralizou nas redes sociais o primeiro bandeirão feito em homenagem ao político uruguaio. A bandeira tinha o escudo do Vasco, um desenho de Mujica, e as inscrições “Vasconha” e “El padriño”.

Com a recente morte de Mujica, a Trivela visitou a loja da Vasconha, que fica a poucos metros da entrada principal de São Januário, e conversou com Vinícius Santos, conhecido como “Cabeça”, um dos pioneiros da Vasconha e hoje sócio da empresa.

— Lá no início a gente pensou em pegar uma pessoa que personificasse um pouco do que a gente pensa de filosofia de vida. E nem precisou pensar muito. Foi uma questão unânime que o Mujica poderia ser essa pessoa. Na época não encontrei ninguém que poderia ser aqui no Brasil essa figura. Ficou fácil ter o entendimento de que o Mujica era essa figura e representaria bem o que a gente entendia como filosofia da Vasconha — disse Vinícius Cabeça à Trivela.

Hoje, Mujica estampa a logo da Vasconha, bandeirões, camisas, adesivos e até uma seda da própria empresa, além de estar grafitado na loja e em um mural próximo de São Januário. Mas, para os sócios vascaínos, Mujica vai além de um “mascote”. E não está só ligado a sua luta pela regulamentação do consumo da maconha.

— Óbvio que o fica mais evidente é a questão da luta contra o encarceramento de jovens, de pobres, por conta da guerra às drogas. Mas o Mujica vai além disso. Tem outra questão filosófica, de pensamento, de solidariedade, simplicidade — ressaltou Vinícius Cabeça.

— Fica mais evidente a questão da legalização das drogas porque estamos falando da Vasconha, mas a gente entende que a pessoa em si, o caráter dele, tem muito a ver com a gente — completou o sócio da Vasconha.

Vasconha também se espelha na solidariedade de Mujica

Este lado solidário de Mujica também inspira a Vasconha. Como a Trivela já mostrou, a empresa tem ações sociais voltadas para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), além de ajudar lares de idosos e associações de moradores de comunidades vizinhas à São Januário. O grupo também milita pela conscientização em relação ao uso medicinal da maconha.

— Também tem esse caráter de solidariedade. É uma coisa que a gente não perde nunca. A gente começou auxiliando lares de idosos, porque também existe um tratamento medicinal de cannabis para pessoas idosas. Mas um dos nossos sócios tem um filho que é autista, passamos a entender a dificuldade, o dia a dia, e sabemos que eles precisam de ajuda — disse Vinícius, antes de finalizar.

— Não só de solidariedade em si, fazendo eventos de inclusão, mas também de conscientização das pessoas. Temos voz, uma amplitude legal, então é importante falar disso. Entre nesse lado da solidariedade da pessoa do Mujica.

Vasconha homenageou Pepe Mujica

Ainda em vida, Mujica foi homenageado pela Vasconha. Em abril do ano passado, o ex-presidente anunciou que estava com um tumor no esôfago, cujo órgão estava “muito comprometido”. O uruguaio também chegou a declarar que seu quadro de saúde era “duplamente complicado” por sofrer de uma doença imunológica há mais de 20 anos que afetou os rins. Já em janeiro deste ano, Pepe foi direto ao dizer que “estava morrendo” e que havia interrompido o tratamento médico.

No mesmo mês, a Vasconha já homenageou Mujica com um novo bandeirão. Dessa vez, com a fase “gracias, Mujica”. A bandeira chegou a ser levada e tremulada em São Januário durante um jogo do Campeonato Carioca.

Como a Vasconha não é uma torcida organizada e não tem cadastro no BEPE, eles precisam que alguma outra organizada do Vasco entre com a bandeira nos jogos – o que será tentado neste sábado (17), contra o Fortaleza, pelo Campeonato Brasileiro, em São Januário.

Após a morte de Mujica, na última terça-feira, a Vasconha publicou um texto em homenagem ao seu “padrinho”

— A Vasconha ergue sua bandeira, seu lenço e sua luta em homenagem a Pepe. Mais do que um símbolo, ele é semente que brota em cada gesto de coragem, em cada voz que desafia o sistema, em cada passo rumo a um mundo mais justo. Descanse em paz, velho guerrilheiro — teu exemplo segue aceso, como brasa que não se apaga — diz um trecho da nota da Vasconha.

Fonte: Trivela